sexta-feira, 2 de junho de 2017

AÉCIO NEVES É DENUNCIADO AO STF POR JANOT E PODE VIRAR RÉU

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ofereceu nesta sexta-feira, 2, denúncia contra o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) no Supremo Tribunal Federal (STF) com base na delação dos empresários do Grupo J&F. O tucano é acusado de corrupção passiva pelo suposto recebimento de R$ 2 milhões em propina da JBS e por obstrução de Justiça por tentar impedir os avanços da Operação Lava Jato. Janot também pediu a abertura de um novo inquérito para investigar o crime de lavagem de dinheiro.

A irmã de Aécio, Andrea Neves, o primo Frederico Pacheco e o advogado Mendherson Souza Lima também foram denunciados, mas apenas por corrupção passiva. Os três foram presos na Operação Patmos, deflagrada em 18 de maio. Essa é a primeira denúncia oferecida contra Aécio, que responde a outros sete inquéritos no Supremo, cinco em decorrência da delação de executivos da Odebrecht e outros dois sobre o esquema de corrupção em Furnas e de intervenção durante a CPI dos Correios, em 2005.
Após o oferecimento da denúncia, o ministro relator do caso, Marco Aurélio Mello, terá que levar o pedido para análise na Primeira Turma do Supremo. Se os ministros aceitarem o pedido de Janot, Aécio se tornará réu e passará a responder a uma ação penal no STF.
A defesa do senador se disse surpresa com a denúncia, por entender que diligências de “fundamental importância” não foram realizadas, como a oitiva do senador e a perícia nas gravações. A defesa lamentou a decisão e disse aguardar o acesso ao inteiro teor da denúncia para poder “demonstrar a correção de conduta do senador Aécio Neves”.
Suspeita
Entre as acusações que pesam sobre Aécio no âmbito da delação dos empresários do grupos J&F, está a gravação na qual o tucano pede R$ 2 milhões a Joesley Batista, um dos donos da JBS. Em uma conversa, o tucano aparece pedindo o dinheiro ao empresário sob a justificativa de que precisava pagar despesas com sua defesa na Lava Jato.
A irmã de Aécio, Andrea Neves, teria feito o primeiro contato com o empresário. O tucano indicou seu primo Frederico para receber o dinheiro. Mendherson também teria participado. O dinheiro foi entregue pelo diretor de Relações Institucionais da JBS, Ricardo Saud, um dos sete delatores. Ao todo, foram quatro entregas de R$ 500 mil cada uma.
Novo grampo
O inferno astral do senador começou a esquentar antes mesmo da denúncia ao STF. Nesta sexta-feira foi divulgado que, no dia seguinte à abertura de cinco inquéritos dos quais é alvo, dia 11 de abril passado, Aécio Neves foi flagrado pelo grampo da Polícia Federal tentando ter acesso ao inteiro teor de uma delação premiada até então mantida em sigilo pelo STF. Ele queria conhecer os termos da delação do empresário Benedicto Júnior, o “BJ”, executivo da Odebrecht ligado à famosa máquina de propinas da empreiteira.
“Temos que correr atrás da delação completa do Benedicto Júnior neste final de semana, viu (inaudível)? É fundamental para umas ações que vou entrar na segunda-feira”, disse o senador a uma interlocutora ainda não identificada pela PF. Leia a transcrição:
Aécio – Temos que correr atrás da delação completa do Benedicto Júnior neste final de semana, viu (inintelegível)? É fundamental para umas ações que vou entrar na segunda-feira.
Interlocutora – Eu achei um absurdo o que fizeram com a gente no STF. Nem a FSB teve acesso.
Aécio – Você não consegue isso com suas amigas não?
Interlocutora – Vou tentar. Eu e a Gabriela estamos tentando.
A conversa foi gravada pela PF às 18h42 do dia 12 de abril, uma quarta-feira. Na véspera, o ministro Édson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, autorizou a abertura de cinco inquéritos contra o senador tucano. Um dos inquéritos tem como base informações prestadas por delatores da Odebrecht, entre eles a de Benedicto Júnior.
Em nota, a assessoria do senador afirmou: “O interesse do senador Aécio Neves em obter a íntegra da delação de Benedito Júnior, já não mais em sigilo à época, tinha o objetivo de comprovar que jamais existiu a acusação publicada pela revista Veja de que Andrea Neves possuía conta em Nova York para recebimento de recursos”.
A defesa alega ainda que a divulgação do conteúdo das delações revelou que a afirmativa nunca foi feita pelo senador. “Importante notar que este diálogo foi descartado do inquérito por ausência de qualquer fato significativo”, acrescenta. “Por fim, é mais do que natural que o senador, diante da notícia de instauração de investigações contra si, buscasse mais informações a respeito, inclusive no que se refere ao seu conteúdo. Isso, obviamente, não tem qualquer conotação irregular e muito menos criminosa.”

do Estadão Conteudo

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