domingo, 2 de julho de 2023

A dose é o que diferencia remédio de veneno

 

Da FOLHA DE PERNAMBUCO - Edmar Lyra
charlesnasci@yahoo.com.br

O Tribunal Superior Eleitoral decidiu ontem pela inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro pelos próximos oito anos a contar do pleito de 2022, retirando-o dos pleitos de 2026 e 2030. A alegação é de que ao discursar para embaixadores defendendo o voto impresso, Bolsonaro teria cometido abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação. O ex-presidente foi o primeiro presidente com direito a reeleição a não conquistar o segundo mandato, numa disputa direta com Lula, que venceu por uma diferença ínfima a nível nacional por conta da vitória mais elástica no Nordeste, única região em que o PT venceu a disputa.

A cassação dos direitos políticos de Bolsonaro o tira de 2026 e de 2030, mas indiscutivelmente pode criar um ambiente favorável a um nome mais ao centro, a exemplo do governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas, e do governador de Minas Gerais, Romeu Zema. Ou seja, os 58 milhões de eleitores que votaram em Bolsonaro dificilmente fariam a travessia para Lula, e poderiam ajudar a um candidato de centro a fazer um contraponto mais eficiente ao PT, que ainda segue com muitas dificuldades de viabilização.

Talvez fosse melhor para Lula enfrentar o próprio Bolsonaro em 2026, pois já conhecia as suas fragilidades, a chegada de um nome mais ao centro pode direcionar o eleitorado alinhado com as pautas bolsonaristas para um nome que venha a representar o anti-petismo e anti-lulismo. Talvez em nome de defender as instituições, o TSE tenha causado um precedente mais grave do que as próprias falas do ex-presidente, que por mais absurdas que viessem a ser, deveria ser permitido o direito ao contraditório. A dose foi cavalar, e o tiro pode sair pela culatra.


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